domingo, 11 de março de 2012

Áurea, mãe

Podia escrever que não me interessa o que os outros pensam. Posso dizê-lo em voz alta muitas vezes, encolher os ombros outras tantas e seguir naturalmente como quem não quer saber. Não me engano. Sei que passada a tentativa legitima de mentir a mim mesma, fico incomodada. E nos últimos meses parece que a minha vida é uma crónica, onde todos deixam comentários, ainda que essa caixa não tenha sido aberta. Por mim. Conciliar trabalho com o inicio da maternidade não é das coisas mais fáceis. Quando se tem uma pequena empresa ainda mais difícil. Precisamos batalhar muito. Nunca me iludi. Trabalhei até ao ultimo dia de gravidez. Alguns dias vinte horas por dia. Quis deixar tudo preparado para a minha ausência e tentei ao máximo não sobrecarregar quem veste a minha camisola. Passados dez dias, meio inclinada pela cicatriz da cesariana, fui a um cliente. Os meus meninos não queriam, mas eu sabia que precisavam de mim. Se me custou? Horrores. Desci os três pisos do prédio em lágrimas, sentei-me na escuridão do meu carro e fiquei ali minutos. Revi a minha vida. Todas as escolhas que fiz, todos os momentos que não pedi mas que não me foi permitido recusar. Vi o meu Irmão. Vi os meus pais. E vi a luta genuína deles para sobreviver à dor, de mão dada, completamente dedicados a mim,a nós e agora ao meu bebe. Custou-me descer cada degrau, separar-me do Rodrigo pela primeira vez. Mas tinha que ser. Sempre soube que seria assim. Tinha dado o passo em frente, sabia-o. Faltam oito dias para ele completar quatro meses. Tenho trabalhado muitas horas, muitos fins de semana, muitas noites. Ando com uma privação de sono enorme. Aprendi que ser mãe dói, magoa. Em lágrimas aprendi a conjugar o verbo confiar. Não fui uma mãe que telefona a cada cinco minutos a perguntar pelo filho. Quis demonstrar aos avós dele que confio neles. Que estou segura na minha ausência, que cuidam dele com amor, que sabem o quero para ele. Vou à luta por mim, mas por ele principalmente. Apartir daí tive que aprender a viver com os olhares reprovadores, com as perguntas com falsas preocupações. O Rodrigo? Já andas assim a trabalhar? Não tens um filho em casa?Não sei como consegues... Inicialmente explicava, respondia. Hoje já não. O que o meu trabalho tem de melhor, revelou-se o pior. É muito social. Tanto estou num restaurante, como de prevenção a noite toda numa discoteca. O ser humano quando quer é reles, e não se dá ao trabalho de tentar alcançar mais do que a primeira vista lhe oferece. Tive dias em que senti as minhas veias a explodir de raiva, outros em que em lágrimas adormeci abraçada ao meu amor pequenino. Encheram o meu coração de remorsos, cheguei a pedir-lhe desculpa se estava a falhar-lhe, mas que estava a ser a melhor mãe que sabia ser. Carreguei tanto a minha alma com isto que uma noite sonhei com o meu Irmão, a limpar-me o rosto, a dizer-me que tinha orgulho em mim. Para eu dar o laço e não ligar. Assim tenho tentado. Sou daquelas mães que acorda de meia em meia hora, inconsciente, a ver se o meu bebé esta a respirar. Sou daquelas mães que a quem já deu o fanico quando ele se engasgou. Já corri a meio da noite para o hospital, em calças de ganga e camisola de pijama porque ele se vomitou e tinha a testa quente. Ganhei tanto medo que esteve duas semanas a dormir connosco. No entretanto já regressou ao bercinho dele. Sou daquelas mães que choram nas vacinas, que sorri em cada consulta por ele se portar tão bem, que teve a sorte de ele não sofrer de cólicas e apenas chorar quando tem fome ou não quer estar deitadinho.Que se derrete quando ele faz a tartaruga, que chorou baba e ranho quando ele deu uma gargalhada. Que o adormece com festinhas na testa e de mão dada. Não lhe dou muito colo. Nem lhe dou pouco. Dou exactamente aquele que acredito que devo dar. Todos os dias tento ser uma mãe melhor. E todos os dias apaixono-me mais um pouco. E acho que ser mãe é mesmo isto. Não olhar ao lado, ouvir sempre o nosso coração. Há quem afirme a pés juntos que não conseguiria separar-se da sua cria tão cedo. Eu acho que não conseguiria entregar a minha aos cuidados duma ama ou dum infantário antes dos dois anos. Mas se tivesse que ser que remédio tinha eu. Eu não lhe dou Aero-om para ele não chorar. Não o agasalho em demasia, não o calço mas porque acredito que é o melhor para ele.  Ninguém é melhor ou pior por isso. Nós somos todas diferentes, mas a igualdade surge no que há de mais elementar, a vontade ser uma boa mãe. A melhor. 

8 comentários:

Este Blogue precisa de um nome disse...

:) e que rica mãe o Rodrigo foi arranjar :)

Beijo para os 3

Joana disse...

o Rodrigo tem uma mãe que acima de tudo e em todas as vertentes de uma mulher, é humana! e isso é uma mais valia! acredita!

beijinho*

Anónimo disse...

Eu tive a sorte de ter a minha avó a olhar por mim em vez de estar enfiada num infantário. Brinquei muito, andei descalça, esfolei os joelhos, mas nunca tive nenhuma bronquite e ites afins ;) E a minha mãe há-de ser sempre a melhor mãe do mundo porque não andou comigo agarrada à mama dela para todo o sítio que ia, deixou-me crescer, deixou-me cair e eu levantei-me e olha... correu muitíssimo bem ;) Vozes de burro não chegam aos céus!
**

Teresa (Miss Healthy) disse...

Gostei muito querida!

Unknown disse...

e tenho a certeza que és uma excelente mãe, nunca deixes que te façam duvidar disso ... **
huG :)

Não sei que diga disse...

Que lindo texto, gostei muito de o ler. Não te preocupes és uma MÃE maravilhosa, que sorte teve o Rodrigo de lhe calhar uma mãe como tu, infelizmente nem todos os Rodrigos por esse mundo fora tiveram essa sorte. Felicidades

Devaneios.de.mestra disse...

Parabéns!! Ao ler este texto percebi que estou perante uma mãe maravilhosa. Eu também quero ser assim quando tiver o meu "rodrigo" :)

Melancia disse...

Hoje, encaminhada por outro blog, vim aqui parar... E, apesar da minha vida ter sido diferente nesse sentido e ter ficado o mais que o trabalho me permitiu, junto do meu pequeno, senti um aperto ao ler o teu texto. Porque às tantas eu, em algum momento do meu percurso, fiz um desses comentários, sem maldade, obviamente. Mas as palvras não precisam de ser enviadas com maldade para ferir quem as ouve! Estou a comentar e nem sei a data do post, ás tantas isto já foi há tanto tempo, mas gostei tanto de ler que não resisti! Sorte do Rodrigo que tem uma Mãe que luta e não se fica!