O dia está a terminar. Lá ao fundo, cada vez mais perto, dezenas de luzes iluminam a estrada. Impõem-se. À minha frente um longo percurso e muita fila. Passo largos minutos rodeada por estranhos. Ao telemóvel, a senhora do carro ao lado gesticula muito, como que a querer fazer-se entender. Do outro lado, um rapaz brinca com o volante enquanto sorri e acaricia o rosto da sua companhia. Distraído, o senhor da frente não avança. Pelo retrovisor acena, como que a pedir desculpa.Tenho o rádio ligado mas não presto atenção à música. Perdida na confusão do meu dia-a-dia, tento adivinhar a vida destas pessoas que quis o destino que se cruzassem comigo, ainda que por minutos, numa qualquer fila de trânsito. Através do vidro, pelas expressões, imagino-lhes o dia-a-dia. Cruzo o olhar com a senhora do carro ao lado. Retribuo-lhe o sorriso envergonhado. Sinto-me exposta e transparente, perante ela que provavelmente pratica o mesmo exercício que eu e constrói um cenário através do meu rosto. Pelo retrovisor sinto os máximos do carro de trás. Aceno um pedido desculpa, arranco lentamente. Desvio à direita, sigo o anoitecer até ao mar. Sigo o meu destino, eles também.
1 comentário:
é um jogo que eu gosto de fazer... tentar "ler" algumas pessoas com quem me cruzo...
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