Uma consulta de rotina no médico que me acompanhou na adolescência. Uma leve chamada de atenção quando revelei a data da última consulta, ainda em Lisboa. Os procedimentos habituais. Preenchimento das fichas com os nossos dados. A pergunta que não queria ouvir. Tem irmãos?. Senti-me pálida, uma onda de terror percorreu o meu corpo frágil. A alma traiu-me. Em lágrimas disse que sim. Tenho UM Irmão. Idade? Partiu com vinte e sete anos. Mas sim, tenho Um Irmão, e não há um momento que não me lembre dele. Numa rápida associação de ideias, o médico perguntou-me é filha da C.?. Uma consulta de ginecologia permitiu-me desabafar. Quis fugir dali a correr. Não quero usar a expressão morreu, não quero acreditar que tal aconteceu. Não quero atender telefonemas nos quais me pedem para falar com Ele, e não poder passar a chamada. Repetir o mesmo tantas vezes. Tantas que me cravam o coração. Não quero recordar que mO arrancaram da minha vida, assim sem avisar, sem tempo para o tanto que havia para viver e partilhar. Não quero ouvir o tens que ser forte, não quero ler remetente herdeiros de Bruno Fonseca. Não quero lembrar a morte brutal que lhe estava destinada. Tento aquecer o coração e impedir o gelo que me assola ao pensar nos seus últimos momentos. Não quero revoltar-me por viver num país onde quem atropela sai impune, ainda que admita o excesso de velocidade e um sem-número de infracções. Nada mO trará de volta. Nada que possa fazer ou dizer. Ainda assim, não me habituo ao olhar sombrio dos meus pais que tanto amo, e às suas lágrimas a cada refeição, a cada anoitecer. Não aprendo a viver com isso. Não existem manuais para tal. E não consigo lidar com Sua ausência. Por mais que me esforce.
8 comentários:
:(
:(
Forca querida!
Beijinhos e boa semana
Só te posso mandar um beijo carregado de força para enfentares isso. Sei o quanto dói uma perda, não uma perda de um irmão, mas também uma perda de uma metade de mim. Por isso em cada palavra tua espelho a minha própria dor. bjs
Olá Suspiro!Como te compreendo...é tão mau quando temos que responder a essas perguntas...e quando pensamos nos últimos momentos??É mesmo de gelar o coração...Por mais que uma pessoa queira e se esforce a vida nunca mais é a mesma...tudo o que passou fica sempre gravado na nossa memória e em qualquer situação tudo nos passa à frente dos olhos. A mim o que mais me custa é saber da crueldade e da brutalidade da morte do meu Pai...Beijinhos S.V.
Um abracinho daqueles
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uma beijoca especial e um abraço forte, muito forte! :-)
Sei bem o que sentes porque perdi o meu irmão há alguns anos e ele tinha 21... também me custa associar-lhe a palavra morte e se por um lado todos os dias penso nele e em várias ocasiões, depois faço tudo para não me lembrar uma única vez daquela noite...
Um bjinho muito grande
Mãe P.
Abraço bem apertado, querida Suspiro. Daqueles que nos tiram o fôlego.
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