terça-feira, 13 de abril de 2010

Uma consulta de rotina no médico que me acompanhou na adolescência. Uma leve chamada de atenção quando revelei a data da última consulta, ainda em Lisboa. Os procedimentos habituais. Preenchimento das fichas com os nossos dados. A pergunta que não queria ouvir. Tem irmãos?. Senti-me pálida, uma onda de terror percorreu o meu corpo frágil. A alma traiu-me. Em lágrimas disse que sim. Tenho UM Irmão. Idade? Partiu com vinte e sete anos. Mas sim, tenho Um Irmão, e não há um momento que não me lembre dele. Numa rápida associação de ideias, o médico perguntou-me é filha da C.?. Uma consulta de ginecologia permitiu-me desabafar. Quis fugir dali a correr. Não quero usar a expressão morreu, não quero acreditar que tal aconteceu. Não quero atender telefonemas nos quais me pedem para falar com Ele, e não poder passar a chamada. Repetir o mesmo tantas vezes. Tantas que me cravam o coração. Não quero recordar que mO arrancaram da minha vida, assim sem avisar, sem tempo para o tanto que havia para viver e partilhar. Não quero ouvir o tens que ser forte, não quero ler remetente herdeiros de Bruno Fonseca. Não quero lembrar a morte brutal que lhe estava destinada. Tento aquecer o coração e impedir o gelo que me assola ao pensar nos seus últimos momentos. Não quero revoltar-me por viver num país onde quem atropela sai impune, ainda que admita o excesso de velocidade e um sem-número de infracções. Nada mO trará de volta. Nada que possa fazer ou dizer. Ainda assim, não me habituo ao olhar sombrio dos meus pais que tanto amo, e às suas lágrimas a cada refeição, a cada anoitecer. Não aprendo a viver com isso. Não existem manuais para tal. E não consigo lidar com Sua ausência. Por mais que me esforce.

8 comentários:

Summer disse...

:(

Anónimo disse...

:(
Forca querida!
Beijinhos e boa semana

Poetic Girl disse...

Só te posso mandar um beijo carregado de força para enfentares isso. Sei o quanto dói uma perda, não uma perda de um irmão, mas também uma perda de uma metade de mim. Por isso em cada palavra tua espelho a minha própria dor. bjs

Anónimo disse...

Olá Suspiro!Como te compreendo...é tão mau quando temos que responder a essas perguntas...e quando pensamos nos últimos momentos??É mesmo de gelar o coração...Por mais que uma pessoa queira e se esforce a vida nunca mais é a mesma...tudo o que passou fica sempre gravado na nossa memória e em qualquer situação tudo nos passa à frente dos olhos. A mim o que mais me custa é saber da crueldade e da brutalidade da morte do meu Pai...Beijinhos S.V.

Suspiro do Norte disse...

Um abracinho daqueles
**

BlueAngel aka LN disse...

uma beijoca especial e um abraço forte, muito forte! :-)

Anónimo disse...

Sei bem o que sentes porque perdi o meu irmão há alguns anos e ele tinha 21... também me custa associar-lhe a palavra morte e se por um lado todos os dias penso nele e em várias ocasiões, depois faço tudo para não me lembrar uma única vez daquela noite...
Um bjinho muito grande
Mãe P.

Cinderela disse...

Abraço bem apertado, querida Suspiro. Daqueles que nos tiram o fôlego.