quarta-feira, 6 de maio de 2009

Calçada da minha vida

Os saltos finos, singelos com que me habituei a caminhar não se adaptam à calçada portuguesa que se transformou a minha vida. Dou voltas, ando em bicos de pé, escolho caminhos que, apesar de se apresentarem mais longos, antevejo serem menos problemáticos mas surge sempre um declínio, um fosso que me dificulta a penosa caminhada em que se transformou a minha existência. E saber que não voltarei a ver a estrada que já tive o prazer de percorrer todos os dias mata-me. Uma linha quase toda ela recta, devidamente assinalada na qual encontrava sinalização sempre que não sabia por onde seguir, onde sabia que andariamos sempre lado a lado, onde sabia que teria sempre um conselheiro, um irmão, um amigo, um melhor amigo com quem via sempre o final da rua. E isso agora terminou. Todos os dias os meus saltos se estragam neste árduo caminho. Todos os dias preciso de placas e indicações que não tenho, que não encontro e que ninguém é capaz de me dar. Preciso de respostas para seguir caminho, para resolver tudo que está pendente e terminar tudo que precisa ser terminado. Faço tudo que posso e não posso para tornar a calçada menos árdua para quem mais amo, para os que mais estão a sofrer e que nunca hesitaram em nos estender o braço quando só precisamos duma mão, e a esses, aos meus pais que nada disto mereciam, não consigo poupar certos passos que seriam escusados, numa altura em que não deveriam caminhar, muitos menos por caminhos tão difíceis. Daria eu tudo que tenho e não tenho para não os ver à procura de respostas que não têm, para não andarem a tentar adivinhar qual o caminho que foi iniciado, quais as placas que foram seguidas e quais os parqueamentos pagos. Mas não. Caminhamos às cegas, agarrados às paredes, num caminho cheio de percalços, no qual apenas pedia que todos se limitassem a fazer o que tem que ser feito, a entregar o que tem de ser entregue, a ter o mínimo de respeito, para não ter que viver momentos como vivi ontem. Mas não, apesar de tudo insistem em fazer mais buracos, a omitir placas e a calcar os pés a quem já nem chão tem.

1 comentário:

gisela disse...

Um beijinho para ti e que as indicações do caminho que deves seguir, nesta difícil calçada, cheguem depressa...