sexta-feira, 13 de março de 2009

Sempre dissemos que acabaríamos a trabalhar juntos. O meu irmão soltava sempre " Um dia trabalharás para mim", mas já sabia que a correcção viria. "Para ti não, contigo". Ele sorria sempre, olhava-me carinhosamente e lembrava-me que era um mundo de trabalho para lá de intensivo. Eu não tinha medo, nem tão pouco me assustava com isso e ele, melhor que ninguém, sabia-o. Projectávamos a minha entrada de mansinho na Contacto, e a gerência da grande obra da sua vida que seria o Restaurante que ia abrir, juntamente com o seu melhor cliente e amigo. Era um projecto daqueles que nos dão calafrios na barriga só de pensar. Um espaço enorme numa das mais movimentadas ruas desta Terra de Horizonte e Mar. Os meus pais inicialmente ficaram apreensivos mas depressa todo e qualquer receio se dissipou. Bastava ouvi-lo. Bastava observa-lo e acreditávamos. Com a sua capacidade de trabalho, empreendedorismo e inteligência sabíamos que seria capaz de levar adiante este sonho gigante. Só dele. Especial e feito à sua medida. Quando nos mostrou o espaço as ideias dele fluíram. Sabia exactamente como queria cada canto dos dois andares. Tinha tudo na mente e as palavras eram reflexo disso mesmo. Falou-nos sem hesitação, firme e foi capaz de nos dizer exactamente o que pretendia. Ele era assim,tinha essa capacidade única de acreditar e fazer-se acreditar . Infelizmente não teve tempo para o concretizar. Talvez tenha sido Deus que assim ditou, não sei.Naquele factidico dia que nos roubou toda a nossa vida, todos os nossos sonhos sabia que não conseguiria levar adiante esse sonho, dele. Com a vida completamente virada do avesso tive que tomar muitas decisões e das quais me orgulho. Lembro-me que nem tive medo. Fiquei gelada com o sangue bloqueado e recusava-me a acreditar. Não era assim que as coisas deveriam ter acontecido. Eu ia entrando na Contacto pouco a pouco. Mas o pior aconteceu e tinha lhe prestar a maior homenagem. Por tudo e por nada, mas essencialmente por ser ele quem mais amo e admiro, por ter sido ele o meu Herói toda a minha vida, por todos os amo-te que dissemos e por todos os que ficaram por dizer. E assim foi, a menina virou mulher naquele dia. E só tinha duas preocupações, a minha família e a empresa. O resto viria por arrasto. Hoje olho para trás e receio o futuro. Não chorei a partida dele e sei disso. Inconscientemente ainda dou por mim em casa sentada à mesa, à espera de o ver chegar naquele jeito apressado tão dele. Mas ele não chega. E sinto os meus pais a morrerem lentamente, a envelhecerem dia após dia numa vida que não era suposto ser assim. Todos os dias eu sorrio-lhes. Todos os dias mostro-lhes uma Áurea com boa cara ainda que cansada. Todos os dias lhes falo da minha maratona diária, para que não se preocupem. Todos os dias me ligam a perguntar a que horas chego para jantar, tal como durante 27 anos fizeram com o meu irmão. Assim, muitas vezes chego a casa e limpo as lágrimas no vão da escada. Sei que sofrem ainda mais por me verem sofrer, e eu faço tudo,tudo para amenizar a dor deles, uma dor inconcebível, só deles e que lhes retirou parte da vida.

3 comentários:

Alentejana de Olhos de Água disse...

Faz bem escrever sobre o que nos vai na alma, muito bem mesmo. Força, nós estamos deste lado para ler.

Beijocas

Anónimo disse...

Força

Beijinhos

A menina disse...

Olás... desculpa a invasão... mas comecei a ler e nc mais parei... Até que percebi que estudas-te na UAL... 1º pelas cores das fitas, depois pela carita laroca da inês ( e essa miuda fez-me chorar!)e pronto só por causa disso, és a maior!! Não me lembro de ti, provavelmente nem tu de mim. No entanto deixo aqui o meu beijinho de energia positiva e muita força para continuares a vencer nesta "puta" de vida que nos prega rasteiras e coloca obstáculos onde nem imaginamos.

CF