terça-feira, 18 de agosto de 2009

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.Perdi a conta às vezes que percorri aquela A1. Saudosa, acelerada, terrivelmente apressada. Não se contam pelos dedos as infracções de velocidade que cometi. A ânsia de chegar junto a vocês cegava o meu bom-senso. Hoje percorri-a novamente. De regresso, o coração lascado envolto em sangue com tamanha dor. A paisagem continua igual. Cada vale, cada árvore, cada manto verde. Eu perdi-me na Tua partida. A minha alma foi conTigo e não regressou. Prometi nunca Te deixar sozinho, ela far-Te-à companhia. O asfalto continua o mesmo, os carros apressados seguem o seu caminho em busca do amanhã. A nossa Ponte da Arrábida, tão nortenha, tão nossa recebe-me como sempre o fez. Sussurra-me imponente que pertenço a esta terra. Mas não o sinto. Não me encontro em lugar algum e perco-me a cada dia que passa, envolta em pensamentos descoordenados e sombrios. Sorrio sem sorrir, danço automaticamente e desenvolvo um eu que não me pertence. E tudo à minha volta urge apressadamente, sem se compadecer com a ferida na minha alma que não sara, que não encontra a sua cura. O tempo esse, vadio e presunçoso não levanta a mera hipótese de arrependimento. Não concerta os estragos que causou. Poderia redimir-se, ser conselheiro. Mas nem se dá a esse trabalho. Exige de mim o que não deveria exigir. Não numa altura destas. Mas sabe que cá estarei para mais tarde o relembrar o quanto me fez sofrer. O quanto me privou de algo que poderia ter sido e não sou mais. E voltei, nesta auto-estrada cinzenta, de volta à minha esfera privada. E encontrei-a desmembrada. Faltou-lhe a alma, o coração. Por momentos, como em tanto outros nesta minha sobrevivência, esqueci que não Te encontraria. Esqueci o lar escuro e choroso, e jurava que Te teria para desabafar. O carro silenciou-se em frente a casa. Naquela curva onde Te vi pela última vez naquele jeito tão Teu. Ainda que com esperança olhei para cima. A minha alma desfez-se. Por momentos, juro que acreditei ser possível.

1 comentário:

Pedro disse...

Minha linda, tens que ter força e agarra-te a quem te quer tão bem. Sabes onde encontrar o teu ombro.

Um abraço mt especial